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Música e suas origens Afro




1974 ficou marcado na história porque foi o ano em que se formaram novos grupos em prol dos movimentos sociais de combate ao racismo e melhorias à comunidade preta. Ao som de instrumentos como a guitarra e violão, Jorge Ben Jor lançou a canção Zumbi, fruto do seu álbum A Tábua de Esmeralda. A letra entoada na voz do cantor carioca, se sobressai aos instrumentos, uma técnica importante que enfatiza a profundidade da mensagem. A canção expressa uma homenagem a Zumbi dos Palmares, líder quilombola e representante das primeiras lutas de resistência da comunidade preta contra a escravidão.


A música de Ben Jor é um grande exemplo sobre a história dos povos africanos que formaram comunidades e culturas pelo resto do mundo. Em O Negro no Brasil, livro do autor Júlio José Chiavenato, é possível compreender as raízes africanas, apesar do contexto escravagista que vitimou cerca de 100 milhões de africanos que entoavam suas preces. Assim como descrito em um relato da época, presente no capítulo 3 da obra.


“O retorno a Lagos foi uma grande festa. Maravilhosa coisa de ser ver”, escreveu Zurara, que descreve os prisioneiros, alguns quase brancos, outros pardos e os demais negros. Evidentemente estavam tristes e Zurara pergunta: qual homem por mais duro não se emocionaria com aquele quadro? O quadro é um dos prisioneiros em rostos lavados em lágrimas e outros com a cara para o céu, chorando alto. Alguns cantam suas tristezas, como é comum em certas tribos”.


O trecho do livro acima descreve fortemente a cultura que sobreviveu aos oceanos e batalhas que dizimaram muitos negros, reforçando que a musicalidade é um dos instrumentos mais fortes da cultura afro, servindo, também, como resistência contra a escravidão.



Continente Musical


“A música, para o meu povo, os Malikês da Guiné Conacri, tem significados, funções e sentidos muito mais amplos que você possa imaginar. ”É assim que, inicialmente, descreve a cantora, dançarina e ativista cultural, fundadora do Instituto África Viva, Fanta Konate. A artista explica que a sonoridade musical e os movimentos estão presentes nas diversas funções, desde pegar água no poço, passando pela preparação da pesca. Os sons dos tambores, como os Djembês e Gunun alternam de acordo com o propósito do momento, sendo entoados em festas e ocasiões diversas como o plantio, homenagens, teatro e casamentos.



Engana-se quem pensa que as danças apenas acompanham automaticamente os ritmos. Sobre isso, Fanta explica: “O significado dos movimentos vão além de uma simples teatralização das ações, embora alguns passos retratem o contexto, por exemplo, no contexto de plantio, as danças podem imitar o movimento de semear pegando as sementes de uma cabaça e jogando para o ar, ou então o movimento das enxadas”, explica a cantora, enfatizando que a dança de seu povo tem origem bem antiga, desde os tempos de Mandén, império de Mali no Século XIIII.


Outras danças, segundo Konate, demonstram a destreza e inteligência motora. Ao longo da história dos negros no Brasil, entende-se que a musicalidade e a habilidade foram fundamentais para resistência em busca da liberdade.


A Música e Capoeira (Brasil)


Juliano Monteiro Roberto, mais conhecido como Mestre Caju Capoeira, recebeu como chamada a modalidade cultural, o som da capoeira. Ele relata que no auge de seus 18 anos, ao visitar uma praça do centro da cidade de Ribeirão Preto, de longe escutou o som do berimbau, do pandeiro, do atabaque e dos cantos de um mestre que eram respondidos em um coro por um grupo de pessoas. Hipnotizado ele conheceu a capoeira, ao qual vivência a 34 anos. “Ali eu me encontrei com minha raiz com meus ancestrais”



A música é um componente essencial na capoeira, no qual a cada instrumento e ladainha (o canto da capoeira) são emitidos mensagens e sentimentos. Antes de se tonar mestre, aprendendo com a tradição, Roberto (Mestre Caju) recebeu uma importante lição de um de seus primeiros professores da modalidade, o professor capoeirista Jerson Monteiro, que de acordo com Roberto, falou a seguinte frase: “Você pode lutar capoeira, mas jogar, você não joga se não tiver o toque de berimbau, senão tiver o canto, o pandeiro, o tambor e o reco-reco, com essa energia”. Foi assim que ele aprendeu que, como seus ancestrais, os cantos e as ladainhas declaravam uma dor, questionando contra a desigualdade e o sistema.


A manifestação e mudança dos toques da capoeira serviam, também, para proteger o grupo de escravos nas rodas de capoeira. Segundo Mestre Caju, em 1920 na Bahia, conforme as cavalarias se aproximavam, era mudado o toque do som da capoeira, enquanto os capoeiristas disfarçavam o jogo para uma dança. “Os senhores capitães do mato achavam que eles estavam se divertindo, mas, na verdade, eles estavam treinando a capoeira”, conta.



Para execução musical da luta e gingado da capoeira, Mestre Caju relata que os povos africanos precisavam criar seus próprios instrumentos, os mesmos objetos sonoros que originaram grandes gêneros musicais, como o samba, por exemplo. Em uma entrevista para o programa do apresentador Pedro Bial, os integrantes do Grupo Fundo de Quintal relatavam a história da formação do grupo e criação de instrumentos como repique de mão e banjo, provindos da cultura africana e adaptados para as rodas de sambas e brincadeiras.


Muitos povos da Bahia se deslocaram ao Rio de Janeiro, levando, assim, o gênero musical a outras localidades e, assim, crescia a comunidade preta que — de diferentes maneiras e gêneros musicais — cantam as lutas e evoluções de uma comunidade resistente a desigualdade, como podemos observar na cultura do rap nacional.



Assim como para o Brasil, os lamentos dos povos africanos ultrapassaram os oceanos e foram ouvidos nos campos e colheitas de algodão originando outro grande gênero, a música gospel.


Origem da música gospel



O significado da palavra Gospel vem da expressão inglesa God Spell, que tem o sentido de Deus soletra ou A palavra de Deus. A maioria das canções são cantadas em reuniões cristãs. Todas as letras são voltadas para os ensinamentos e aclamação ao Espírito Santo, passagens bíblicas, entre outras formas de entoar louvores.


Muitos não imaginam que a música Gospel surgiu nas igrejas afro-americanas, com o estilo musical Jazz. No século XIX, os negros eram desprezados pelos brancos, e a música foi uma forma de para vencerem e expressarem suas angústias.


Por consequência, o Blues nasceu com canções muito melodiosas e tristes, que expressavam a luta e dores dos negros. O gênero entrou nas igrejas como forma de súplica a Deus. O Blues é a essência da música gospel, que influência até os dias atuais muitos corais modernos, cantores e músicos.


Tomas Andrew Dorsey é um pianista de blues considerado o Pai da música gospel. Dentro do ritmo do blues, Dorsey colocava letras cristãs que chegavam dentro dos templos. Porém, com tal modernidade na música, ele não foi interpretado muito bem pelos seus irmãos de fé. Mas com os seus frutos, influenciou a música gospel americana.


Mahalia Jackson, cantora que se inspirava em Dorsey, foi uma das principais cantoras negras estadunidenses no século XX com a música gospel. Estreou cantado na televisão antes de um discurso de Martin Luther King, com a música “I have a dream” - Eu tenho um sonho. Foi convidada a homenagear o pianista Dorsey em seu velório.


O reverendo e cantor James Cleveland, conhecido como o Rei do Gospel, recebeu 4 Grammys nas suas primeiras músicas de autoria própria e, também, fundou a convenção cristã considerada, atualmente, como a maior do mundo: Music Work of American.


Vale pontuar que a primeira música gospel vencedora do disco de ouro foi Oh, happy day, em 1968, pelo cantor Edwin Hawkins Singer, que é sucesso até os dias atuais.


Muitos cantores iniciaram suas carreiras nas igrejas, como Aretha Franklin e Ray Charlie. Elvis Presley foi um deles, sendo um dos maiores divulgadores desse gênero musical. Lançou 4 álbuns e representou o gospel americano dos anos 60. Ganhou 3 Grammys e, em 2001, entrou para o hall da fama gospel.


Um evento marcante nos anos 90 da música gospel foi Michael Jackson fazer sua performance pela primeira vez com a música Will you be there — Você estará lá, trilha sonora do filme Free Willy, acompanhado de um coral gospel.


No Brasil, as músicas foram traduzidas por missionários batistas e presbiterianos dos EUA, no início do século XX. Traduziram os hinários para o português cristãos como a Harpa Cristã e o Cantor Cristão, esses louvores eram restritos apenas para os cultos cristãos.


Somente em 1980, as músicas cristãs no Brasil surgiram com um ritmo bem diferente do tradicional, baseados no Rock e no Pop, como: Oficina G3, Shirley Carvalhaes, Aline Barros, Ana Paula Valadão, Cassiane e muito mais. Hoje, são inúmeros estilos que influenciam a música cristã, no aspecto cultural e religioso e o principal de Devoção e louvor a Deus.






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